Mestre Rebolo
Tudo quanto se faça para homenagear e festejar o pintor Rebolo Gonsales e sua arte é senão dever de justiça, pois estamos diante de um grande mestre que vem realizando através dos anos uma obra de importância fundamental na história das artes plásticas brasileiras e o tem feito sem as trombetas da fácil publicidade, sem os elogios ainda mais fáceis do grupismo, das rodinhas. A obra de Rebolo resulta de uma extrema dignidade artística, de uma consciência que se nutre de orgulho e humildade, de um trabalho incansável, cotidiano. Obra de alguém fiel a si mesmo, à sua irreversível vocação, ato de amor.
Mestre numa geração de mestres, seu nome está ligado indestrutivelmente aos grandes movimentos culturais que modificaram a fisionomia artística e literária do Brasil e ao falar em Rebolo logo nos recordamos de tudo quanto foi feito em São Paulo nos últimos cinqüenta anos - por Ter sido ele um desses homens que abalaram as estruturas e colocaram as bases da arte contemporânea no Brasil. Muitos nomes eu poderia citar aqui, companheiros do pintor, mas quero recordar apenas o de Sérgio Milliet, o amigo perfeito, nome que sei tão grato ao coração de Rebolo.
Sendo um dos iniciadores de tudo quanto temos hoje, não se ateve às experiências iniciais, tão importantes. Prosseguiu jovem, experimentando e criando. Não permitiu envelhecimento à sua arte, não envelheceu ele próprio, coração pulsando ao ritmo de um tempo de nascer e morrer. Foi em frente, grande pintor ao longo de decênios.
Acompanho seu trabalho há mais de trinta anos, recordo os Salões de Maio de São Paulo, um tempo tão próximo e distante, e posso marcar assim a extrema unidade de uma obra tão diversa, unidade que provém da incansável dedicação do artista a seu ofício criador. Mestre Rebolo, a quem devemos tanta beleza - ele nos enriqueceu com seus quadros.
Jorge Amado
Depoimento, 1973