Rebolo, Artesão
Rebolo Gonsales, como artista do nosso pós-impressionismo, é o protótipo de espécime artesanal que chamaríamos o pintor "paulistano", paralelo ao espécime estético do pintor "paulista". Como artesão, aliás, é duma rara probidade retrospectiva e prospectiva. Prepara os suportes, guarda e escolhe as telas, sensibiliza-as com a ação do tempo e do magma, para em seguida programar os temas e ajustar-lhes o pigmento.
Tem, quanto ao artesanato, ou melhor, quanto ao virtuosismo, aquelas mesmas virtudes sinceras de Volpi e de Gomide. Como artista, dedica-se à paisagem mais como perspectiva visual e espacial do que como efeito ótico e episódico.
Os seus pigmentos são pessoais, no sentido de resultarem de escolhas, preferências, sínteses, pincéis, espátulas, velaturas, gamas e cambiantes. A tal respeito, a sua paleta é rica e está sempre a serviço de materiais sensoriais, quase táteis.
Não seria figura de retórica nem vezo analógico situá-lo entre os nossos primeiros "fauves", pela vibração de atmosferas. Constitui a sua obra, ao lado da de Volpi, Gomide, Zanini e De Fiori, uma agradável cosmogonia bairrista, quase local, de uso amplo porém, desde a visualização do litoral vicentino até os acidentes do Tietê. Pintor paulista e paulistano de tal porte que é ipso facto pintor nacional. Dos que melhor conhecem o métier e sensibilizando-o à sua maneira específica.
José Geraldo Vieira
Folha Ilustrada, setembro de 1965