Rebolo Gonsales
Rebolo Gonsales é um homem que não foi bafejado pela fortuna durante a sua meninice, durante a sua mocidade. Seus ímpetos artísticos muitas vezes foram julgados ou desviados em virtude das dificuldades encontradas no decorrer da sua vida. Mesmo assim, Rebolo, o jogador de futebol, o já popularíssimo extrema-direita, sentia que estava num roteiro errado. Um outro mundo, aquele que palpitava dentro dele, era o que o seduzia - a arte.
Em 1934, o aplaudido extrema-direita morre e nasce o pintor. Mas, todo aquele legado de pureza, de espontaneidade, toda aquela franqueza despretensiosa, todo aquele entusiasmo que explode alegre no ar dos estádios durante as pelejas esportivas, permaneceram intactos na alma do artista. Nem um só traço, nem uma só pincelada revelam outro rebolo que não o do povo, da camaradagem ruidosa, festiva, sadia das partidas de futebol.
Nasceu o artistas com belos predicados do extrema-direita: sua maneira de ser, de ver a vida, as coisas, é a mesma do antigo jogador. Sua obra assim nos diz.
Os seus olhos contemplaram as obras dos grandes mestres durante dois anos, na Europa. Durante dois anos Rebolo passou a sua sensibilidade pelos museus, pelas exposições e o rebolo que voltou é o mesmo Rebolo humilde.
Os grandes mestres o empolgaram. Com eles aprendeu muita coisa. Aprendeu sobretudo a não ouvir as arengas dos falsos modernistas. E solidificou muito mais o seu respeito pelo verdadeiro artista.
Quirino da Silva
Diário de São Paulo, fevereiro de 1959